quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Sermão da quarta-feira


Ora suposto que somos pó, e não pode deixar de ser, pois DEUS o disse: perguntar-me-eis e com muita razão, em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos,assim como se distingue o pó do pó.Os vivos são pó levantado,os mortos são pó caídos;os vivos são pó que anda,os mortos são pó que jaz.Então essas praças no verão cobertas de pó:dá um pé-de-vento,levanta-se o pó no ar e o que se faz? O que fazem os vivos e muito vivos.Não aquieta o pó,nem pode estar quedo;anda,corre,voa;entra por esta rua,sai por aquela,já vai adiante,já torna atrás;tudo enche,tudo cobre,tudo envolve,tudo perturba,tudo toma,tudo cega,tudo penetra:em tudo e por tudo se mete,sem aquietar e sossegar um minuto,enquanto o vento dura.Acalmou o vento;cai o pó e onde o vento parou,ali fica;ou dentro de casa,ou na rua, ou em cima de um telhado,ou no mar,ou no rio,ou no monte,ou na campanha.Não é assim?Assim é.E que pó e que vento é este?O pó somos nós;o vento é a nossa vida.Deu o vento levantou-se o pó,parou o vento caiu.Deu o vemnto eis o pó levantado,estes são os vivos.Parou o vento eis o pó caído,estes são os mortos.Os vivos pó , os mortos pó;os vivos pó levantado,os mortos pó caído;os vivos pó com vento,e por isso vão;os mortos pó em vento,e por isso sem vaidade.Essa é a distinção e não há outra.
(Antônio Vieira)

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